terça-feira, 6 de novembro de 2012

O Susto

        Alguém na central da polícia atende ao telefone, era um homem. Digo o que acabou de ocorrer e o policial desliga me chamando de desocupado e me manda ir trabalhar.
        A porta de um dos meus vizinhos se abre, era a senhora Chica, ela arregala os olhos e encara a mim depois o cadáver aos meus pés. Num piscar de olhos ela fecha porta às pressas e berra com alguém, dizendo que havia um corpo pálido na casa de seu vizinho, fala que está desesperada e precisa de um médico urgente.
        A voz dela se cala por um instante e meu coração começa acelerar, como um motor de carro a 300 por hora. Sem pensar saio correndo, desço os lances de escadas aos pulos, chegando na  portaria, amanso os passos, mas ainda estava suando frio.
        Consegui sair do prédio e nesse instante a policia acaba de chegar; agi como se não tivesse visto nada, os tiras entraram correndo. Após isso percebi que era a minha chance de fugir. Não fiz nada de errado e nem cometi nenhum crime, não devo nada para ninguém, mas os tiras e a minha vizinha fofoqueira não sabem disso, melhor não arriscar.
        Um segundo carro de policia estava chegando no local e me viram correndo como louco, não pensaram duas vezes eu seria suspeito, desceram da viatura e a perseguição esta formada, que mau dia. Eles corriam atrás de mim gritando ” pare em nome da lei”, eu respondia: “a lei só serve para os ricos, eu sou pobre!”, não acreditaram em mim, que pena!!!
        Fui para o meio da rua movimentada um carro vinha vindo a toda o sinal estava aberto, rolei por cima do capo do carro que acabou batendo no veiculo da frente e...o resto não foi nada interessante.  Os policias me xingavam de todos nomes possíveis, ainda bem que não haviam crianças por perto.
        Agora o que eu faço? Vamos revisar, acordei com um presunto na minha porta, uma vizinha louca me chama a polícia dizendo que matei o tal presunto, que droga de dia! Pensei em ir ao quartel de polícia que liguei para esclarecer as coisas, logo na entrada alguns homens fardados me reconheceram e disseram para eu não me mover e me disseram:_ Fala a verdade você não correria, correria? Respondi:_Eu sim.
        Os malditos tiras alertaram aos berros os outros policiais de que o suspeito de ser assassino do homem no prédio mais cedo era eu, era o que eu queria mais gente me perseguindo, se fossem mulheres...Isso não vem ao caso...  precisava me esconder num lugar seguro, então corri para o parque municipal da cidade que era o parque mais próximo em alguns quilômetros.
        Dei o máximo de mim para chegar ao parque e me esconder antes que os policiais pudessem me alcançar. Já no local procurei uma árvore que fosse volumosa e com muitos arbustos por perto para tornar mais difícil de me encontrarem. O parque estava quase deserto, foi fácil achar um esconderijo seguro. Subi  na árvore e fiquei atento aos movimentos de tudo que fosse vivo, principalmente o que estivesse fardado e a minha procura.
        Eles vieram mesmo, rodearam a árvore que eu estava, passaram por perto várias vezes e até tentaram escalá-la, sem sucesso algum, meu coração quase saiu pela boca nesse momento, um tempo passou e foram embora, esperei anoitecer, desci e verifiquei o perímetro,- a área tá limpa.
       O que eu deveria fazer agora que era procurado pela policia? Sair do país? Mudar de nome? Virar politico? Sinceramente não sei. Pedi a Deus por uma luz, vaguei por uma hora pela escuridão da cidade, quando percebi estava de volta no prédio onde tudo começou. Talvez eu deva refazer meus passos para encontrar algo que me sirva de álibi ou prova de que não matei ninguém.
        Para não chamar atenção entrei pela área de serviço, subi pelas escadas da saída de emergência até o meu apartamento, aquele andar estava quieto, escuro, perfeito para procurar por provas sem ser visto. A porta de minha casa estava entre aberta, pensei que haviam policiais lá dentro me esperando com a luz apagada, o que eu faço? Posso ser preso em segundos depois que os tiras apontarem armas para a minha cabeça ou posso conseguir provas de que sou inocente.
        O que faço? Ou vai ou racha, respirei fundo, abri a porta com tudo, nesse instante a luz acendeu sozinha, era como eu havia imaginado, os policiais estavam me esperando, já fui dizendo “eu me rendo, eu me-“, quando olhei vi várias pessoas me olhando com sorrisos nos rostos, uma  enorme faixa de “Parabéns” colocada na parede, uma mesa com bolo e muitos doces.
        Nossa eu fui para o céu e não percebi? Não, não tive tanta sorte assim...as pessoas gritaram Parabéns e começaram a cantar aquela música de aniversário, sem entender nada fiquei olhando até que meu vizinho,  Chico, veio e me contou tudo: “Precisávamos tirá-lo de casa por uma bom tempo para colocar a decoração, fazer os doces e tudo mais, então pedi a um amigo que trabalha num museu de cera para fazer um corpo falso o mais realista possível, depois pedi há uns amigos policiais para convencer o capitão e os demais a entrarem na brincadeira. Eles concordaram contanto que ganhassem bolo. O mais complicado mesmo  foi convencer dona Chica a participar com sua atuação a la Fernanda Montenegro,  merecia um Oscar de melhor atriz do ano”.
       Só fiquei olhando e ouvindo, um tanto quanto surpreso e Chico continuou: “Aconteceu da seguinte forma, coloquei o corpo falso na sua porta, apertei a campainha e me escondi na casa do seu vizinho da frente o seu Geraldo,  então avisamos a dona Chica para entrar em ação, em seguida os policiais. Você é um cara bem difícil de se pegar hein, e o melhor é que eu filmei os melhores momentos do dia com várias câmeras para exibir na sua festa” o que poderia dizer estava sem palavras, na verdade queria era dar um chute do Anderson Silva no Chico, mas tudo bem, comecei a rir e entrei no meio da festa. Agradeci a todos pela brincadeira, comemos e depois ligamos o som e fizemos uma balada improvisada muito divertida.




Autora: Ana Maria Assoni Alcântara

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